Entrevista da minha mãe – donaMineco Hirai Okabe – para Luana Ribeiro (luana@redebahia.com.br)

Filha de japoneses cultiva plantas de várias espécies em terreno baldio

São 84 ipês. Cinquenta deles, já crescidos, só esperam o fim de agosto para pintar o chão de roxo, amarelo e branco, durante uma semana. Tem também 20 romazeiras, cinco jabuticabeiras, três jacarandás-mimosos, mais de 15 variedades de hibisco e dez tipos de amora e outras frutíferas, além de várias espécies de flores. Na verdade, há muito mais no jardim cultivado pela professora e jardineira Myriam Okabe, 74, em um grande terreno antes baldio – na rua Wanderley Pinho, no Itaigara.

Mesmo morando em Brotas há 46, essa paulistana, filha de japoneses, vai ao local pelo menos 20 dias por mês, para cuidar das mudas que traz de casa junto a pelo menos 150 litros de água que transporta por semana. “Uma vez paguei até um carro-pipa, porque ia viajar”, conta. Ninguém imagina que esse trabalho gigante vem de uma mulher de 1,48m. “São dez anos, por isso está tão grande”, diz. Para ajudá-la, contratou o funcionário Antônio Silva em 2009. Ele aprendeu o ofício com o tempo, vendo as plantas crescerem. “Fico feliz vendo tudo se transformando”, afirma. Ela é autodidata (“pesquisa e Globo Rural”) e nos fins de semana, a ajuda é de seu marido, Nobuo Okabe.
“Sempre gostei de mexer com a terra e achei esse terreno”, explica ela, que tem autorização mas não o apoio da prefeitura para fazer seu jardim. Seu e de todos. “É meu presente para cidade. Quando
morrer, minhas cinzas vêm para cá”, diz. Pensando na posteridade, Myriam procura algum biólogo que tope a missão de identificar as espécies.

MEMÓRIAS
Rua das Hortências, Pituba. Apesar do nome florido, só uma grama rala cobre os canteiros da Praça Ana Lúcia Magalhães. Ing Wang, 56, bem que já tentou plantar hortências, crisântemos, bromélias e rosas do deserto.
“Mas não adianta, quando começam a nascer, as pessoas vão lá e ó: arrancam! Com raiz e tudo!”. Ing, que veio de Formosa, no Taiwan com 11 anos e há 17 mora em Salvador, cultiva plantas na praça, tentando dar vida ao lugar. E acaba relembrando a infância.

“Na China, qualquer pedacinho de terra as pessoas estão plantando. Aqui na Bahia tem tanto espaço e não se aproveita”, observa. É um trabalho de formiguinha que começou há um ano, a partir de espécies descartadas por uma floricultura vizinha a sua loja de reforma de roupas.

“De noite eu ia catar lixo”, ri,referindo-se às flores, que jogadas fora por começarem a murchar, pela manhã viravam mudas na praça.

 

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